Antes do open health, o hospital precisa ser digital

O intercâmbio de dados hospitalares é uma meta possível, mas existem diversos ajustes na forma como a Saúde no Brasil é pensada – e colocada em prática – para que isso aconteça.

A promessa do open health é a transferência de dados de uma instituição de saúde para outra, garantindo a qualidade da informação e o contexto em que foi criada. A tendência vem na esteira do movimento "open", que agrega outros setores, como o bancário. 

Diferentemente do segmento financeiro, que há tempos já está em processo de digitalização, a saúde ainda enfrenta diversas complexidades para garantir que a jornada de seu usuário seja 100% digital.

"Parece que é uma questão de falta de vontade da Saúde para a adoção do open health, mas está longe disso", conta Aldir Rocha, sócio-consultor da Lozinski Consultoria de Negócios.  

Segundo o especialista, para o open health decolar, a primeira necessidade é a inclusão digital dos hospitais — o que leva tempo. Segundo a pesquisa TIC Saúde 2022, apenas um em cada cinco estabelecimentos de Saúde começou a oferecer parte de uma experiência de saúde digital aos pacientes, como agendamento de consultas (22%), agendamento de exames (21%) e visualização de resultado de exames (26%). Apenas 8% das organizações disponibilizam a visualização do prontuário eletrônico e somente 13% realizam o monitoramento remoto dos pacientes.

Passado esse desafio, tem outro: o da interoperabilidade.

“Primeiro, tem de haver o interesse genuíno dos entes que compõem a cadeia de valor da saúde em trocar informação. Quando isso acontece, é preciso olhar como colocar em prática, pois cada sistema foi construído de um jeito diferente, e, na hora de compartilhar esses dados, é preciso que eles cheguem da mesma forma, com a mesma qualidade semântica e que isso não vire um risco para o paciente e o clínico”, explica Aldir. Ele completa:

“Existem padrões consolidados: para armazenar, garantir a semântica e compartilhar os dados. Eles devem ser incorporados para permitir que todos utilizem a informação.”

Outro entrave, segundo o especialista, é a cultura provida pelo modelo de pagamento “fee for service”, ou seja, o paciente paga por cada procedimento ou recurso utilizado.

“Quanto mais uma pessoa vai ao hospital, mais o business ganha dinheiro. Esse pêndulo tem de mudar para outro lugar, ou seja, para a saúde baseada em valor. Os hospitais precisam ganhar por desfecho clínico. Quanto mais rápido houver o desfecho, melhor. Não pode ser a indústria da doença, precisa ser a da saúde”, conta Aldir.

“A forma de perceber a saúde começa a ser impulsionada quando você passa a ter informações melhores, quando a forma com que você monitora é melhor”, completa.

Colocar ordem na casa 

Para que essas modificações aconteçam seria muito otimista esperar que o mercado resolva sozinho. A saída reside na regulamentação, controlada por órgãos do Estado, cujo papel é ser maestro de todo esse processo.

“O Estado deve estabelecer os padrões, chamar a indústria de software para fazer as modificações, descobrir onde falta promover a inclusão digital para que todos os hospitais passem a ocupar seu espaço. Esse movimento deve ser compulsório, tem de vir por meio de um plano transformacional que vai arrebanhar todos em um cronograma pactuado”, diz.

Ele acredita que alguns fatores vão impulsionar os hospitais ao open health, como a própria Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que transforma o dado do cidadão em um ativo protegido pelo Estado. Outro aspecto é a existência da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), um projeto robusto que faz parte do Ministério da Saúde. É como se fosse um barramento, no qual todos os sistemas têm de se conectar.

“Isso só fortalece a importância do open health e ajuda a colocar ordem na casa”, conclui. 

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