"Associar Telessaúde à redução de custos é um erro", afirma especialista

Segundo Chao Lung Wen, presidente da ABTms, o principal foco deve ser a diminuição de desperdícios. O aspecto econômico é apenas uma das consequências benéficas desta vertente da digitalização

A digitalização da Saúde no Brasil está bem alicerçada. Desde 2016 foi lançada a Estratégia de Saúde Digital brasileira e suas premissas vêm sendo discutidas e atualizadas. A integração dos processos de Telemedicina e Telessaúde à Rede Nacional de Dados em Saúde colabora com a inserção da Telemedicina no SUS. Os benefícios esperados são muitos e a redução de desperdício, em várias frentes, certamente é um destaque. Mas nesta agenda, também é necessário atenção a respeito de ideias e conceitos equivocados que podem comprometer as decisões dos hospitais.  

“Um grande erro, por exemplo, é usar o velho discurso de que a Telemedicina e a Telessaúde diminuem custos. Estes recursos, na verdade, servem para reduzir desperdício, para aumentar a eficiência das empresas e facilitar o acesso dos cidadãos à saúde. Custo menor é um efeito da redução de desperdício, alerta Chao Lung Wen, Chefe da Disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP e Presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTms).

O Brasil, segundo ele, perde quase R$ 80 bilhões ao ano em desperdício e, se esse valor for reduzido pela metade com ajuda da digitalização, haverá mais dinheiro para investir.

“Num bom hospital, se eu reduzo a média de internação em um dia, a chamada internação desnecessária, de 5 dias para 4, aumento em 20% a disponibilidade de leito. Isso pode ser feito por meio de Teleavaliação pré-admissional, para saber se a pessoa está bem, se tem todos os exames. Além disso, 30% dos idosos que recebem alta são reinternados num período de 30 dias porque não souberam como cuidar da sua saúde. Se eu conseguisse reduzir para 15%, já teria ganho. Isso se faz com Telehomecare ou Teleacompanhamento pós-alta, para garantir que ele saiba se cuidar, com ou sem a ajuda dos familiares. O aumento de acesso é quando eu dou grandes facilidades para a população contatar e se conectar a um profissional que sabe tomar essas decisões. Neste momento, não estamos trabalhando com a Teleconsulta, mas, sim, com a estratégia de logística para potencializar o sistema”, explica o presidente da ABTms. 

O mesmo princípio vale para todos os outros aspectos onde a transformação digital no setor vem acontecendo, como a digitalização de documentos e assinatura biométrica, por exemplo. A redução de custo com a eliminação do papel em todas as etapas da assistência é uma consequência natural do caráter sustentável proporcionado pela inovação tecnológica — e não o fim em si. Falar somente em custo seria uma simplificação perigosa no conceito da digitalização, uma vez que pode levar à banalização das novas práticas.

“Nós temos que começar pelo certo, que é focar em aumentar a eficiência do sistema de saúde, e a tecnologia tem muito o que contribuir”, diz o médico. 

Prevenção e tecnologia de mãos dadas em prol da sustentabilidade

Na área da saúde, a redução de desperdícios e a consequente diminuição de custos ainda passa pela prevenção de doenças. Também neste aspecto, a Telessaúde desempenha um papel primordial, com um potencial imenso a ser explorado.

“Como eu acabo com as filas de espera em um hospital? Com as pessoas que não ficam doentes. Isso acontece com prevenção. Temos um mundo que está envelhecendo e queremos ter um envelhecimento saudável, ativo. A Telessaúde, quando vista como uma prioridade, colabora com a promoção do bem-estar e a prevenção de doenças”, lembra Chao Lung Wen. A prevenção, portanto, é mais uma faceta importante da cadeia de sustentabilidade na Saúde. 

A chegada do 5G ao Brasil também vem sendo fundamental para a saúde preventiva, pois facilita a intensificação no uso de wearables, essenciais para fazer monitoramento das condições físicas.

“Outra coisa que deve ocorrer até 2030 são as Casas Conectadas. Vamos trabalhar muito no chamado cuidado em domicílio sob supervisão”, conta Chao Lung Wen.

“Nós temos uma missão: tentar ajudar a conduzir a saúde, nestes próximos oito anos, para que possamos atender ao novo perfil da população. Afinal, em 2030, o Brasil terá mais idosos do que crianças de 0 a 14 anos”, conclui o especialista. 

“Temos de começar pelo certo, que é focar em aumentar a eficiência do sistema de saúde, e a tecnologia tem muito o que contribuir.” Chao Lung Wen, Presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTms) 

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