O que é glosa hospitalar: entenda como ela impacta a área da Saúde e como evitá-la

Saiba neste artigo como prevenir a glosa na sua instituição e ter melhores resultados financeiros.

homem e mulher em ambiente hospitalar analisando dados em um tablet

Um dos grandes desafios das instituições de saúde no Brasil atende pelo nome de glosa hospitalar. O termo, embora técnico, carrega um significado com impacto direto nas finanças, na operação e até na reputação de hospitais, clínicas e demais prestadores de serviço. 

Em linhas gerais, glosa é a recusa total ou parcial do pagamento de um procedimento por parte de operadoras de planos de saúde, geralmente motivada por falhas no processo de cobrança, como erros na documentação, codificação inadequada ou descumprimento de regras contratuais.

Na prática, isso significa que o serviço foi prestado, os recursos foram utilizados, os profissionais atuaram — mas a instituição pode não receber por isso, ao menos não de imediato. O que deveria ser uma transação objetiva entre prestador e pagador se transforma, muitas vezes, em um processo burocrático, que exige retrabalho, contestação e revisão de dados.

Esse cenário tem se tornado cada vez mais frequente, como mostram dados da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). Um levantamento da entidade apontou que quase 80% dos hospitais associados identificaram aumento no número de glosas nos dois anos seguintes à pandemia. As instituições relatam um crescimento tanto na frequência quanto no valor total glosado, indicando que o problema não é pontual, mas sim sistêmico.

 

Por que as glosas acontecem?

Há uma série de fatores que contribuem para a ocorrência de glosas hospitalares. Entre os mais comuns estão erros na digitação de informações, divergências entre o que foi registrado no prontuário e o que foi faturado, falhas na codificação de procedimentos, ausência de documentos obrigatórios ou mesmo atrasos no envio das faturas.

Em outros casos, as glosas podem ser motivadas por auditorias das operadoras, que detectam inconformidades em relação às diretrizes contratuais, tabelas de procedimentos ou protocolos clínicos. E ainda existem as chamadas glosas técnicas, que ocorrem quando há discordância clínica sobre a necessidade de determinado procedimento.

Cada glosa acionada demanda atenção administrativa. É necessário revisar toda a documentação envolvida, identificar o motivo da recusa, preparar uma contestação (quando for o caso) e, frequentemente, corrigir erros para reencaminhar a cobrança. Esse processo consome tempo e recursos — o que representa um desafio adicional em instituições onde os fluxos de trabalho já são complexos.

 

Os impactos das glosas na gestão hospitalar

As glosas afetam as instituições em diferentes frentes. O primeiro impacto é, claro, financeiro. A não aprovação de cobranças representa perda de receita, e em muitos casos compromete a liquidez do hospital. Quando isso ocorre em larga escala, pode haver atraso no pagamento de fornecedores, dificuldade em manter os investimentos planejados e até impacto no pagamento de salários.

Mas os efeitos não param nas finanças. Quando a equipe precisa dedicar tempo e energia para resolver questões administrativas relacionadas às glosas, há um desvio de foco da atividade-fim da instituição: o cuidado com o paciente. Isso significa que, indiretamente, as glosas também comprometem a qualidade assistencial.

Outro ponto que merece atenção é a reputação. Uma instituição que acumula glosas com frequência pode ser percebida como desorganizada, pouco eficiente ou mesmo negligente. Essa percepção afeta a confiança de pacientes, familiares, profissionais de saúde e até parceiros estratégicos. Em um setor onde a credibilidade é construída com base em confiança e consistência, isso representa um risco importante.

 

Como prevenir e lidar com as glosas?

Se as glosas são, em boa parte, resultado de falhas nos processos internos, é possível afirmar que elas podem ser reduzidas — e, em alguns casos, evitadas. Para isso, algumas práticas ganham destaque.

A primeira delas é investir na qualificação das equipes envolvidas com faturamento e codificação. Profissionais bem treinados conhecem as regras de cada operadora, os prazos de envio, os documentos obrigatórios e os protocolos de codificação — fatores que fazem toda a diferença na redução de erros.

Outro ponto importante é a adoção de processos claros e padronizados, que garantam que todas as etapas, desde o atendimento até o envio da fatura, estejam bem integradas. Isso inclui a padronização de prontuários, checklists para conferência de documentos e comunicação eficiente entre setores.

O uso de tecnologia também é um aliado estratégico. Plataformas de gestão hospitalar podem automatizar etapas do processo de faturamento, emitir alertas para campos obrigatórios não preenchidos, fazer a validação prévia de dados e cruzar informações de forma mais segura. Tudo isso contribui para a redução de erros e para uma cobrança mais assertiva.

Além disso, é recomendável manter um setor de auditoria interna ativo, com atuação preventiva. Ao revisar as contas antes do envio à operadora, esse time pode identificar inconsistências e corrigi-las antecipadamente, evitando o retrabalho posterior.

Também é importante acompanhar indicadores de desempenho relacionados às glosas, como o percentual de glosa sobre o total faturado, os principais motivos das glosas, as operadoras que mais glosam e os setores da instituição com maior incidência de falhas. Esses dados permitem identificar padrões e agir de forma estratégica.

 

O caminho é a prevenção

Embora seja praticamente impossível eliminar completamente as glosas, já que algumas dependem da interpretação da operadora ou de auditorias externas, é possível reduzir significativamente sua incidência e seus impactos. O segredo está na prevenção: organizar processos, capacitar equipes, monitorar indicadores e investir em sistemas que ofereçam suporte à gestão.

Encarar a glosa como um problema apenas financeiro é um equívoco. Seu impacto vai muito além da receita mensal. Afeta a rotina das equipes, a experiência do paciente, a imagem institucional e até o potencial de crescimento da organização. Por isso, mesmo para quem está nos primeiros passos da gestão em saúde, entender o que é glosa hospitalar e como ela funciona é um passo importante para evoluir com mais segurança.

Em um setor desafiador como o da saúde, onde cada recurso precisa ser bem aproveitado, evitar perdas como as glosas pode ser a diferença entre operar com tranquilidade ou com constantes riscos de desequilíbrio. 

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